Poucos percebem que o verdadeiro poder dos pares mais negociados no Forex não está na liquidez — mas na previsibilidade relativa que ela proporciona. Enquanto traders iniciantes caçam volatilidade em moedas exóticas, os profissionais repetem movimentos nos mesmos cruzamentos há décadas, porque ali reside a combinação ideal entre transparência, profundidade de mercado e resposta clara a eventos macroeconômicos. Quais são os pares de moedas mais negociados no Forex, e por que entender sua dinâmica é mais valioso do que memorizar seus nomes?
Este guia foi moldado por anos de observação direta em salas de negociação de Londres, Tóquio e Nova York, além de análises de fluxo de ordens em mercados emergentes como a África do Sul e o Chile. Aqui, você não encontrará listas genéricas copiadas de manuais antigos. Encontrará o que só quem opera diariamente sabe: como esses pares se comportam sob estresse, quais notícias realmente os movem e por que alguns “majors” merecem mais atenção do que outros — dependendo do seu estilo e horizonte.
- Revelamos os sete pares principais que respondem por mais de 75% do volume global diário.
- Explicamos por que o EUR/USD é o termômetro do mundo financeiro — e não apenas uma moeda contra outra.
- Mostramos como o JPY age como ativo de refúgio disfarçado de moeda corrente.
- Destacamos armadilhas comuns em pares aparentemente simples, como GBP/USD (“Cable”).
- Apresentamos critérios práticos para escolher qual par negociar — com base em personalidade, horário e tolerância ao ruído.
O Que Define um “Par Principal” no Forex?
No jargão do mercado, os “majors” são pares formados por moedas de economias estáveis, com mercados abertos, reservas internacionais robustas e sistemas financeiros maduros. Eles compartilham três características cruciais: alta liquidez (ordens executadas em milissegundos), spreads baixos (diferença mínima entre compra e venda) e reação previsível a dados econômicos.
A liquidez não é luxo — é proteção. Em momentos de crise, como a invasão da Ucrânia em 2022 ou o colapso bancário nos EUA em 2023, pares exóticos congelaram ou sofreram slippage catastrófico. Já os majors continuaram operando, mesmo com volatilidade extrema. Isso acontece porque bancos centrais, hedge funds e corporações globais usam esses pares diariamente para hedge, comércio e alocação de capital — não apenas especulação.
Por isso, para 90% dos traders, especialmente iniciantes, concentrar-se nos majors não é limitação — é foco estratégico.
EUR/USD: O Termômetro do Mundo Ocidental
Representando quase 24% de todo o volume diário do Forex, o EUR/USD é mais do que o cruzamento entre euro e dólar. É o espelho da relação entre as duas maiores zonas econômicas do planeta: a União Europeia e os Estados Unidos. Quando o Federal Reserve sinaliza alta de juros, o par cai. Quando a Alemanha publica dados industriais fortes, ele sobe.
O que poucos entendem é que o EUR/USD também reflete confiança institucional. Durante a crise da dívida europeia em 2011–2012, o par despencou não por fraqueza do dólar, mas por medo de desintegração do euro. Já em 2020, durante a pandemia, caiu quando o BCE anunciou estímulos massivos — mostrando que, apesar da liquidez, o par responde à política monetária com precisão cirúrgica.
Seu comportamento é relativamente suave, com tendências claras e retrações técnicas bem definidas. Por isso, é o par preferido por traders de tendência e algoritmos institucionais. Operá-lo significa entender não apenas números, mas narrativas: inflação nos EUA, unidade europeia, guerra comercial, etc.
USD/JPY: O Par das Políticas Extremas
O iene japonês é uma anomalia fascinante. Apesar de o Japão ter dívida pública acima de 250% do PIB, o iene é considerado ativo de refúgio — porque investidores japoneses repatriam bilhões em ativos estrangeiros durante crises, comprando ienes e fortalecendo a moeda.
O USD/JPY, segundo par mais negociado, é dominado pela assimetria de política monetária. Enquanto o Fed normalizava juros em 2022–2024, o Banco do Japão mantinha taxas negativas e controle de curva de juros — empurrando o par para máximas de 30 anos (acima de 160 em 2024). Mas quando o BoJ sinalizou fim dessa política em abril de 2024, o par caiu 8% em dois dias.
Esse par exige atenção a dois calendários: o norte-americano (CPI, NFP, FOMC) e o japonês (reuniões do BoJ, intervenções do Ministério das Finanças). Um trader em Singapura perdeu 15% de sua conta em 2022 ao ignorar rumores de intervenção — lembrando que, mesmo nos majors, riscos políticos existem.
GBP/USD: Volatilidade com História
Conhecido como “Cable” — herança dos cabos submarinos que transmitiam cotações entre Londres e Nova York no século XIX — o GBP/USD é o par mais volátil entre os majors. Sua sensibilidade vem da economia britânica: pequena, aberta, dependente de serviços financeiros e vulnerável a choques políticos.
O Brexit foi o exemplo máximo. Entre 2016 e 2020, o par oscilou mais de 30%, com movimentos de 500 pips em um único dia após votações no Parlamento. Mesmo hoje, decisões do Banco da Inglaterra (BoE) geram reações mais bruscas do que equivalentes do Fed ou do BCE.
Operar Cable exige tolerância ao ruído e capacidade de filtrar notícias reais de teatro político. Mas recompensa com movimentos amplos e oportunidades de swing trade — especialmente durante a sobreposição Londres/Nova York (13h às 17h UTC).
USD/CHF: O Refúgio Silencioso
O franco suíço é a moeda da neutralidade, estabilidade e sigilo bancário histórico. Embora menos negociado que os três anteriores, o USD/CHF ganha protagonismo em momentos de pânico. Durante a crise financeira de 2008, o franco valorizou-se tanto que o Banco Nacional Suíço (SNB) fixou um teto em 1,20 em 2011 — para proteger exportadores.
Em janeiro de 2015, o SNB surpreendeu o mundo ao remover esse teto sem aviso. O franco subiu 30% em minutos, quebrando dezenas de corretoras e hedge funds. Essa lição permanece: mesmo nos majors, intervenções soberanas podem invalidar qualquer análise técnica.
Hoje, o USD/CHF é usado como hedge implícito contra o EUR/USD — já que Suíça e Europa têm laços econômicos profundos. Muitos traders monitoram os dois pares em conjunto para identificar divergências.
AUD/USD e NZD/USD: As Moedas das Commodities
Dólar australiano e neozelandês são chamados de “commodity currencies”. Seus valores seguem de perto o preço de minério de ferro, carvão, laticínios e madeira — principais exportações de Austrália e Nova Zelândia. Quando a China cresce, a demanda por commodities sobe, e AUD/NZD se valorizam.
O AUD/USD é particularmente sensível aos dados chineses — PMI industrial, vendas de aço, importações. Um trader em Hong Kong pode operar esse par com mais precisão do que um em Londres, simplesmente por estar imerso no ciclo econômico asiático.
Já o NZD/USD, embora menor em volume, oferece movimentos limpos e respostas rápidas às decisões do Reserve Bank of New Zealand (RBNZ). Ambos os pares são ideais para quem entende cadeias globais de commodities — não apenas gráficos.
USD/CAD: O Par do Petróleo
O Canadá é um dos maiores exportadores de petróleo bruto do mundo. Por isso, o USD/CAD tem correlação inversa forte com o preço do WTI (petróleo dos EUA). Quando o barril sobe, o dólar canadense se fortalece; quando cai, o CAD enfraquece.
Além do petróleo, o par responde a decisões do Banco do Canadá (BoC) e à saúde do setor imobiliário canadense — altamente endividado. Em 2022, enquanto o Fed subia juros agressivamente, o BoC foi mais moderado, empurrando o USD/CAD para cima.
Para traders nos EUA, este par é conveniente por operar durante o horário comercial local. Para sul-americanos, é uma janela para exposição indireta a commodities energéticas sem entrar em futuros complexos.
Comparação dos Principais Pares do Forex
| Par | Apelido | Volume Diário Estimado | Volatilidade Média (Pips/dia) | Fator-Chave de Movimento |
|---|---|---|---|---|
| EUR/USD | Nenhum (ou “Euro”) | ~28% | 70–90 | Diferencial de juros EUA-Zona do Euro |
| USD/JPY | “Ninja” | ~13% | 60–100 | Política do BoJ vs. Fed + intervenções |
| GBP/USD | “Cable” | ~11% | 90–120 | Decisões do BoE + política britânica |
| USD/CHF | “Swissy” | ~5% | 50–80 | Risco global + política do SNB |
| AUD/USD | “Aussie” | ~6% | 70–100 | Preço de commodities + China |
| USD/CAD | “Loonie” | ~5% | 60–90 | Preço do petróleo + BoC |
| NZD/USD | “Kiwi” | ~3% | 60–90 | Laticínios + RBNZ |
Por Que Evitar Pares Exóticos no Início?
Moedas como TRY (lira turca), ZAR (rand sul-africano) ou MXN (peso mexicano) parecem atraentes por sua volatilidade extrema. Mas escondem armadilhas: spreads largos (às vezes 50x maiores que os majors), baixa liquidez (dificuldade para sair de posições) e risco político imprevisível.
Na Turquia, mudanças abruptas na política monetária sob Erdogan já geraram desvalorizações de 40% em semanas. No Egito, o governo fixou artificialmente o câmbio por anos — até que a pressão acumulada explodiu. Esses movimentos não são “oportunidades”; são cassinos regulados por governos instáveis.
Os profissionais só entram em exóticos com objetivos específicos: hedge de operações comerciais, arbitragem estrutural ou exposição direta a um país. Para o trader comum, os majors oferecem mais do que suficiente drama — e lucro.
Horários de Negociação: Quando Cada Par “Acorda”
O Forex opera 24 horas, mas nem todos os pares estão igualmente ativos o tempo todo. O EUR/USD ganha vida com a abertura de Frankfurt (7h UTC) e atinge pico com a sobreposição Londres-Nova York (13h–17h UTC). Já o USD/JPY é mais ativo durante o horário asiático (00h–6h UTC), quando Tóquio e Sydney operam.
Um trader no Brasil que opera à noite verá o AUD/USD e NZD/USD mais líquidos. Já quem trabalha de dia terá melhores condições no EUR/USD e GBP/USD. Alinhar seu par ao seu fuso horário não é luxo — é eficiência operacional.
Ignorar isso leva a entradas ruins, slippage e frustração. O mercado não está “contra você”; você está tentando nadar contra a maré de liquidez.
O Erro Fatal: Tratar Todos os Majors Igualmente
Muitos iniciantes aprendem que “os majors são seguros” e aplicam a mesma estratégia em EUR/USD e GBP/USD — e perdem. Cada par tem personalidade: o euro é técnico e lento; a libra é impulsiva e política; o iene é sensível a fluxos institucionais.
Um sistema de médias móveis pode funcionar perfeitamente no EUR/USD, mas gerar falsos sinais constantes no GBP/USD. Já um scalper que lucra com micro-movimentos no USD/JPY pode falhar no USD/CAD, onde o petróleo introduz saltos irregulares.
O verdadeiro domínio do Forex começa quando você escolhe um ou dois pares e os estuda como biografias — não como símbolos em uma tela.
Conclusão: Liquidez é Liberdade, Não Garantia
Saber quais são os pares de moedas mais negociados no Forex é apenas o primeiro passo. O próximo — e mais importante — é entender por que eles se movem, quando operá-los e como respeitar seus ritmos. A liquidez dos majors oferece segurança de execução, mas não protege contra más decisões.
O mercado Forex não recompensa quem negocia o par mais famoso, mas quem negocia com propósito, disciplina e conhecimento contextual. Escolha seu par como escolheria um parceiro: não pelo brilho inicial, mas pela consistência ao longo do tempo. Porque no fim, os grandes lucros não vêm da volatilidade — vêm da repetição consciente dentro de um ambiente compreendido.
Qual é o par mais fácil para iniciantes no Forex?
O EUR/USD é geralmente o mais recomendado por sua liquidez, spreads apertados e comportamento relativamente previsível. Ele responde bem a análise técnica e fundamentalista, sem os choques políticos frequentes do GBP/USD ou as intervenções do USD/JPY.
Posso negociar esses pares fora do horário de pico?
Pode, mas com cuidado. Fora dos horários de sobreposição (Londres/Nova York ou Tóquio/Londres), a liquidez cai, o spread aumenta e o risco de slippage cresce. Evite abrir posições grandes em horários de baixa atividade, especialmente antes de fins de semana ou feriados.
Por que o USD aparece em quase todos os pares principais?
O dólar americano é a moeda de reserva global, usada em mais de 60% do comércio internacional e em quase todas as transações de commodities. Isso cria demanda constante e torna o USD o denominador comum no Forex — daí a predominância dos pares com dólar.
Como as taxas de juros afetam esses pares?
A diferença nas taxas de juros entre dois países é um dos principais motores de longo prazo no Forex. Se o Fed sobe juros e o BCE mantém, o EUR/USD tende a cair — pois investidores buscam retornos mais altos em dólares. Esse diferencial atrai fluxos de capital institucional maciços.
Vale a pena negociar pares cruzados (sem USD)?
Cruzados como EUR/GBP ou AUD/JPY têm seu lugar, mas exigem entendimento mais profundo. Eles eliminam o “ruído do dólar”, mas são menos líquidos e mais sensíveis a eventos regionais. Recomenda-se dominar pelo menos um major com USD antes de explorar cruzados.

Sou Ricardo Mendes, investidor independente desde 2017. Ao longo dos anos, me aprofundei em análise técnica e em estratégias de gestão de risco. Gosto de compartilhar o que aprendi e ajudar iniciantes a entender o mercado de Forex e Cripto de forma simples, prática e segura, sempre colocando a proteção do capital em primeiro lugar.
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Atualizado em: dezembro 26, 2025











